quinta-feira, 7 de março de 2013

GUTO


Mas não contei para vocês ainda sobre o Guto.
Guto era sobrinho da vó Léa. Primo e padrinho de Pati. Havia perdido sua mãe em 1986. Vó Lili (mãe do Guto) teve câncer de mama e depois que descobriu a doença, durou pouco tempo. Desde então, ele morava com seu irmão mais novo Sandro em um bairro vizinho ao nosso. Seu nome de verdade era Nemer Augusto, mas para nós, era só Guto. Não sei dizer quantos anos ele tinha quando nos conhecemos, mas ele estava sempre feliz. Parecia uma criança. Adorava brincar com ele. Sei que por eu ser um pouco grande e desengonçado, ele sentia um pouco de receio e acabava preferindo brincar com a Susi (só porque ela era menorzinha parecia ser mais dócil, mas o doce na história sempre fui eu!), mas posso afirmar que passamos bons momentos juntos. Guto era portador de Síndrome de Down. Era muito inteligente. Às vezes passava uns dias conosco. Chegava fardado com a roupa do Grêmio (time de futebol de Porto Alegre), mas sempre pedia a bandeira do Inter (time de futebol de Porto Alegre) para Pati dizendo: - No fundo no fundo eu ainda sou colorado! Enchia nossa casa de alegria. Ele e Pati passavam horas assistindo filmes engraçados ou jogando videogame. E eu é claro, ficava aos pés dos dois. Deliciava-me ouvindo a risada deles. Como era bom Vê-los felizes!
Não pude aproveitar muito sua companhia. Em 2007 (ou seria 2008? Minha cuca está envelhecendo e não recordo muito bem as datas) Guto foi morar em outra cidade, bem longe da nossa. Pati  falava com ele quase todos os dias por telefone.   Às vezes,
quando desligava o telefone, podia vê-la chorar. Tadinha. Cada vez
que ela telefonava para ele, ele perguntava sobre a “dotora”. A doutora era a vó Léa. Ela era advogada e Guto a chamava carinhosamente de “dotora”. Não tiveram coragem de contar a ele que a “dotora” havia partido. Seria muito sofrimento. Então ela dizia que estava tudo bem aqui, que estávamos com saudade (sim, ela dizia o meu nome e o da Susi) e que estávamos sem telefone em casa, por isso a “dotora” não conseguia falar com ele. E a cada ligação ele perguntava: - Quando é que tu vens me ver? Pati estava com as férias programadas para abril. Todos os meses juntava uns trocados para poder visitar o Guto. Chegou a fazer terapia para superar o medo de voar. Só para vê-lo! Mas a vida é uma caixinha de surpresas. Em março de 2009, Guto decidiu se juntar à vó Léa lá no céu. No dia de sua partida, deitei no chão ao lado de Pati. Eu pressenti que ela receberia a notícia em breve e precisaria de um ombro amigo. Uns instantes depois, tio Dayber (irmão da vó Léa) ligou avisando que Guto agora estava liberto. Não estava mais com dificuldade para respirar. Não sentia mais dor. Estava indo ao encontro da vó Léa e da vó Lili. Pati chorou. E eu fiquei ao seu lado por toda a noite.
Pati acredita que eu fui enviado por anjos para este lar. Talvez o anjo seja meu pai Luciano. Afinal, foi ele quem me achou. Ou fui eu que o achei? Ah tanto faz! O que importa, é que eu serei um cão eternamente grato por tanto cuidado e carinho que recebo.

VÓ LÉA E GUTO

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