Estava feliz em minha casa. Feliz com minha família. Susi já
me aceitava e algumas vezes até brincávamos juntos. Confesso que foram poucas as
vezes de brincadeira, pois ela tinha o péssimo hábito de se “adonar” da bola ou
de qualquer coisa que servisse como brinquedo. E eu acabava desistindo de
brincar. Mas não era só da bola que ela se adonava. Certa noite durante um
churrasco no pátio de casa, ganhei um osso e ela também. Não satisfeita com o
seu, se atracou em mim querendo pegar o meu. Gritei de susto e me encolhi
tremendo. Por sorte Pati nos separou a tempo, senão ela podia ter feito um belo
estrago na minha patinha. Não que Susi seja grande coisa (é uma vira-lata
branca de uns nove quilos e bem pitoca, mas acha que é um dobermann de tão
metida a valente que é), mas como eu já havia levado uma boa sova daquele Pit
Bull, qualquer palavra que me dizem em tom mais alto eu me encolho e choro.
Todos os dias antes de sair para o trabalho, Pati servia o
café da manhã para vó Léa na cama. Assim que ela saia, vó Léa chamava eu e a
Susi e dividia seu café conosco. Metade de um pão francês com leite para mim e
a outra metade para a gulosa da Susi.
Infelizmente esta regalia durou pouco.
Em meados de julho de 2008, vó Léa foi internada no hospital.
Ela estava doente há alguns anos e a doença havia se agravado muito. Uns moços
de roupa azul vieram buscá-la em uma barulhenta ambulância. Vó Léa se despediu
de nós e partiu com lágrimas nos olhos. No outro dia, soube que ela havia feito
uma cirurgia na pata, ops, na perna direita. Ela não teve a mesma sorte que eu.
Segundo os doutores, as artérias que levavam o sangue ao cérebro estavam
obstruídas e acabou ocorrendo uma necrose e tiveram que amputá-la. Ficou três
dias na UTI e depois foi para o quarto, pois já estava melhorando.
Seis dias depois, acordei no meio da noite uivando. Senti um
medo inexplicável. Pati acordou sobressaltada com meu uivo e partiu para o
hospital, como se pressentisse algo. Chegou lá e viu que Vó Léa estava indo
para o céu. Não resistiu às duas paradas que seu coraçãozinho sofreu. Mais
tarde, meu pai e tia Iza (cunhada da vó Léa) vieram até minha casa. Quando eles
chegaram, uivei de tristeza. E tremia. Sabia que minha adorada vó havia
partido. Tia Iza chorava baixinho. Pegou uma muda de roupa da vó Léa e partiu.
Ficamos Susi e eu sozinhos naquela tarde. Como sofri. Passei dias naquele
quarto, esperando que ela voltasse. Mas não voltou.
Minha mãe e
meu pai passaram uns quantos dias tristes. Era natural que sentissem saudade.
Pati era quem mais sofria. Ela e vó Léa eram unha e carne. Uma era a vida da
outra. Passavam horas conversando, e em muitas destas conversas eu e Susi
ficávamos deitados na cama só curtindo. Eram companheiras de vida. Sofreram
juntas muitos anos, pois meu avô Ayres era uma ótima pessoa quando não bebia,
mas quando bebia... Sobrava para elas duas. Em função da doença, vó Léa sentia
muitas dores nas pernas e raramente levantava da cama. Eu e Susi éramos seus
companheiros fiéis. Fazíamos uma bagunça danada perto dela, mas ela nem ligava.
Sei que ela nos amou (e ainda ama lá do céu) muito. Recebemos dela todo o amor
possível que só as avós sabem dar. Até guloseimas escondidas de Pati ela nos
dava. Este foi o grande motivo da Susi ter engordado tanto. Parecia uma
porquinha roliça.
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