sábado, 23 de fevereiro de 2013

A CHEGADA DE LORD - PARTE 3 -


As duas semanas que se seguiram foram tranquilas. Luciano vinha todos os dias fazer os curativos em mim. Mas logo teve que voltar ao trabalho e os curativos ficaram por conta da vó Léa e da Pati. Pobrezinhas! Padeceram na primeira vez. Estavam com medo de me machucar. Impossível sentir dor com tanto carinho que recebia. Eu seria incapaz de fazer qualquer coisa a elas. Olhava bem no fundo dos olhos de Pati e dizia: - Mãe, obrigado por me cuidar. Estou feliz aqui!
Aí eu fechava os olhos e esperava ela terminar o curativo.
Descobriram depois de uns dias, que eu estava sendo tratado por uma médica, que havia me levado a outro veterinário. Mas como ela fazia muitos plantões no hospital, não tinha como cuidar de mim todo o tempo (além de ter uma cachorrinha em casa). Então quando me encontrava, me levava pro veterinário, trocava meus curativos e me dava comida. Eu era da rua. Andava sempre acompanhado de uma senhorita vira lata chamada Preta. Dormia em um bar na zona sul onde uns senhores que sempre se excediam na bebida ficavam. Perto de onde meu pai trabalhava. Nunca mais vi a Preta.
Depois de um mês, retornamos ao Dr. Valério. Pati estava confiante! Achava que a tal infecção já estava curada. Infelizmente não foi assim. Fiz uma nova sessão de fotos da minha pata. Quando as fotos foram reveladas, eu olhava tentando entender porque achavam que havia alguma imagem ali, se era tudo preto!  Ele olhou para mim, fez carinho no meu dorso e olhou para minha mãe dizendo: - Mãezinha, olha aqui no Raio X a mancha escura. Essa mancha é a infecção. A infecção aumentou. Teremos que continuar com o tratamento por mais tempo.
Pati voltou chorando para casa. Nesta noite, se recusou a ir a uma festa da empresa só para cuidar de mim. 
Eu te amo mãe!
E lá fomos nós de volta pra casa.
Passaram-se mais sessenta dias sem grandes novidades. A esta altura, a cusquinha invocada (que se chama Susi) já me suportava. Vinha perto de mim, me cheirava e dava meia volta. Eu tinha esperança que ela gostasse de mim... Recebi muitas visitas neste período: Tia Lenise, tia Elisa, tia médica (prefiro não citar o nome dela, pois como perdemos contato, talvez ela não queira se expor). Todas estas tias ajudaram muito minha mãe. Levavam material para fazer os curativos, ração, roupinhas e brinquedos. Mas a ajuda maior veio da Dra. Ela pagou minha cirurgia. Na época, vó Léa estava muito doente e Pati sustentava a casa (com a ajuda do Luciano é claro) e não tinha condições de arcar com tudo sozinha. Já bastavam os remédios caríssimos. Deve ter sido bem difícil para todos. Eu estava dando muita despesa.
Em um dos incontáveis curativos, senti cair um pedacinho de osso da minha pata. Pati e Vó Léa se apavoraram. Guardaram aquele ossinho para mostrar ao Dr. Valério (será que elas pensavam que seria útil na cirurgia?).
Certa manhã, acordei com a casa agitada. Pati, Luciano e vó Léa pareciam nervosos. Fui convidado para um passeio. Ganhei abraços e beijos da Vó Léa e de Pati. Além de um, vai com Deus e volta logo. Ué, mas eu não ia passear na praça e voltar? Fiz minhas necessidades e opa! O caminho para a praça não é de carro pai! Ai ai ai! Para onde estão me levando? Quinze minutos angustiantes dentro daquele carro. Um calor tremendo. Desci do carro de língua de fora.
Epa! Eu conheço este lugar! Ah não! Dr. Valério!
- Olá amigão! Pronto para consertarmos este estrago?
Minha nossa senhora da bicicletinha! Era hoje o dia da cirurgia! E nem me contaram antes!
Senti um afago no dorso. Rasparam os pelos de uma de minhas patas. E uma picadinha. Era a anestesia. Senti um soninho chegando....
Acordei meio zonzo depois de algumas horas. Estava dentro de uma gaiola. Olhava para os lados e via dois Dr. Valério. Será que me deram bebida alcoólica?
- Calma Lord. É só o efeito da anestesia passando. Foi tudo bem com a tua cirurgia. Tua mãe ligou um monte de vezes para saber de ti. Pode descansar. Vais ficar aqui esta noite em observação e amanhã pode ir para casa.
Aaaah! Que boa notícia! Como eu queria minha cama fofa. Até da Susi estava com saudade. Dormi de novo.

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