quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A retirada dos pinos


Passaram-se sessenta dias desde que eu havia feito a cirurgia. Já estava acostumado a andar com os pinos. Minha vida resumia-se a passeios curtos (como eu sou um bom moço, não faço nenhuma necessidade fisiológica dentro de casa) pois não podia caminhar muito, sonecas, banhos de sol e muito paparico da minha família. Finalmente chegou o dia da retirada dos pinos. Meu pai me levou ao Dr. Valério, prometendo que seu eu me comportasse, na volta daríamos um passeio bem longo. E eu me comportei como um verdadeiro Lord.  Foi tudo tranquilo segundo “meu médico” (Dr. Valério ficou tão meu amigo que me dei ao desplante de me referir a ele como meu médico). Minha pata não ficou igual ao que era. Ficou meio tortinha em razão da perda de ossos e músculos. Consigo firmá-la no chão, mas quando posso evito. Assim não forço tanto. Cheguei em casa afoito. Fucei cada cantinho do nosso apartamento. Até cavoquei o canteiro de girassóis da minha mãe. Destruí todos os brotinhos que nasciam. Estava livre daquele peso na pata. Sentia-me feliz e sem dor. Estava curado! Pati chegou à noitinha. Como sempre, as mães tem de trabalhar e a minha não era diferente. Trabalhava muito. Chegava exausta, mas por mais cansada que estivesse, nunca estava cansada para me fazer companhia. Sentava no chão e contava como havia sido seu dia, mas só depois de perguntar:- Meu filho tu te comportaste bem? Não incomodou a vovó?
Eu só olhava para ela e sacudia a cola.
Neste dia foi diferente. Pati sentou no chão, olhou minha pata, me acarinhou e disse: - Lord, como é bom te ver bem meu filho! Sacudi a cola, lati (um au bem alto) e dei um pulo nela. Minha mãe caiu pra trás de susto. Viu mãe!!! Estou sem pinos! Posso correr e pular agora! Não quero mais ficar fazendo repouso! Vamos passear?
Acho que ela leu meu pensamento. Pegou a coleira e demos uma volta na quadra toda! Lati para o Max (um labrador gordo que morava na casa em frente), para o Brutos (um guaipeca sem rabo por quem a Susi era apaixonada) e tentei correr atrás de um gato amarelo. Para quem só ia até a esquina era um grande avanço. 

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