sábado, 2 de março de 2013

Papel picado!


Dali para diante era só festa. Bastava dizerem o meu nome que eu corria gritando algo parecido com um aiaiaiaiaiai. E é assim até hoje! Pati costuma dizer que depois que tirei os pinos, ligaram o botão de 220V em mim. Os vizinhos sabem de longe quando minha mãe chega em casa ou quando vamos passear. Ela pega minha coleira e eu corro gritando de felicidade. Chego perto dela e pulo feito um doidinho. Ora, passear não é uma das melhores coisas da vida? Ainda mais quando se mora em um condomínio cheio de outros cães. Tenho muitas árvores para marcar e cantinhos para explorar! Ela já tentou fazer com que eu ao menos diminuísse os latidos. Borrifava água no meu focinho, fazia um barulho xarope com um apito... Não adiantou nada! Ninguém tira minha alegria.
Falando em passeios, Pati está sempre dizendo que eu sou “uma viagem”, só porque para fazer totô, eu dou no mínimo umas dez voltas em torno de mim mesmo. Tenho que achar o melhor lugar ué! Não posso escolher um lugar em que algum outro peludo tenha feito. Eu gosto de escolher bem e depois de feita a porcaria, ciscar bastante. Quase sempre em direção oposta. Pati pensa que eu não vejo quando ela recolhe o “enfeite” e diz que eu não preciso ciscar. Eu vejo sim, mas a sensação de estar com as patas na terra é muito boa. 
Depois de algumas semanas da retirada dos pinos, descobri uma pilha de jornais na sala de casa. Pati juntava para doar ao sítio que cuidava dos cachorros. Fui me aproximando da pilha aos pouquinhos e meti a pata. Consegui derrubar alguns exemplares. Olhava desconfiado, pendendo a cabeça para o lado. Até que percebi que podia brincar com eles. Abocanhei uma folha e comecei a picar. Fiz uma picaçada na sala. Estava achando muito divertido rasgar aquelas folhas. Pati e vó Léa me chamaram. Gelei. Fiquei imóvel. Quem sabe assim elas não descobrissem o que eu havia feito. Mas era tarde demais. Na soleira da porta, Pati me olhava sem dizer um ai. Logo apareceu atrás dela a vó Léa. Permaneci imóvel, olhando para as duas e pronto para receber uma bronca daquelas. Para minha surpresa, as duas caíram na gargalhada ao mesmo tempo. Ficamos os três a picar jornal. Quem não gostou muito foi meu pai, que teve que passar o aspirador de pó, pois o apartamento era todo forrado com carpete. Passei seis meses sem me divertir em razão da pata. Agora era hora de reaprender a brincar. Aos poucos, minha família liberava uma bolinha, um bichinho de pelúcia ou um jornal velho. Não podia abusar, pois minha pata não tinha a mesma força de antes, e eu podia me machucar.

Olhem eu aqui!



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